Uma ideia (quem tiver pouca paciência pode saltar directamente para o último parágrafo, mas não aconselho que a história é bonita)

Quando era criança, qualquer feriado que calhasse num dia de semana já tinha plano delineado: telefonava-se na véspera para o FC Porto para saber a que horas era o treino do dia seguinte e no próprio dia era sair de casa bem cedinho; eu, o meu irmão e os amigos que coubessem no carro. A minha mãe, com paciência de santa, não só conduzia como esperava no carro durante toda a manhã. E que longa manhã...

Normalmente pouco passava das oito horas quando víamos chegar os jogadores. Iam chegando, estacionavam os carros e dirigiam-se para o balneário: primeiro autógrafo. Esperávamos depois que saíssem do balneário em direcção ao campo de treinos, e nesta altura era mais fotografias, para que os jogadores não perdessem tanto tempo. E depois ficávamos a ver o treino, excitadíssimos. Crianças e reformados a toda a volta do campo - uma assistência de fazer inveja a muitos jogos da I Liga - acompanhando religiosamente cada movimento, cada exercício, cada brincadeira dos jogadores. Fotos, fotos e mais fotos.

Acabado o treino, era altura para o segundo autógrafo, enquanto os jogadores se dirigiam do campo para o balneário. E depois a longa espera. Normalmente mais de meia hora para que saísse o primeiro jogador. E quando começavam a sair, era um atrás do outro... Era preciso estar atento para não perder nenhum. Nessa altura conseguia-se o terceiro autógrafo de cada jogador e aproveitava-se para tirar ainda mais fotos, desta vez especando-nos, sorridentes, ao seu lado. Muitas meninas gostavam de pedir beijinhos - eu por acaso nunca quis. Mas eles acediam pacientemente, aos beijinhos, às fotografias, aos autógrafos, enquanto os reformados assistiam ao fundo, entre sorrisos. Lembro-me, uma vez, de um deles ter gritado: "Ó Timofte, tens que arranjar um carimbo!". O romeno, cercado de dezenas de crianças, riu-se do comentário e continuou a assinar.

Íamos contando os autógrafos à medida que os jogadores iam saindo. "Já passou o André? E o Domingos?" O Aloísio era sempre o último. Aparecia lá para a uma da tarde. Já nem todas as crianças resistiam até esta altura - nem todas as mães eram tão pacientes como a minha. Quando o brasileiro concedia o último rabisco no caderno, entrávamos no carro com uma clara sensação de missão cumprida. Depois era gastar depressa o que restasse do rolo e correr a revelar as fotografias, que assim que estivessem prontas iam ser exibidas na escola.

Embalada por recordações deste género, custa-me aceitar a situação no actual CTFD. Para além de ser longe de tudo, longe dos adeptos e do "coração" do FC Porto (embora quanto a isso nada se possa fazer), não prevê, pela sua estrutura, qualquer contacto entre os jogadores e os adeptos. O máximo que se consegue é impedir a saída dos carros, requisitando depois o desejado autógrafo através da janela do condutor - isso até que os seguranças afastem os adeptos do carro forçando o jogador a seguir viagem pois começa a formar-se fila. Adicione-se isso à febre pós-Mourinho dos treinos à porta fechada e temos a receita para uma massa adepta cujo acesso aos seus ídolos é totalmente vedado. Lembro-me bem do que sentia em dias como o que descrevi e entristece-me que os adeptos infantis do FC Porto não tenham actualmente a mesma oportunidade. Entristece-me que eu não tenha actualmente a mesma oportunidade! Afinal, está-se sempre em idade de pedir um autógrafo a um ídolo, não é verdade?

É por essa razão que deixo aqui o meu apelo: vamos pedir ao FCP que o treino do próximo sábado seja à porta aberta (isso imaginando que haja treino no sábado, se não houver faça-se o de sexta, que não é a mesma coisa mas já é qualquer coisa)! É falar para aqui se faz favor. Porque sabemos bem que também é destas pequenas grandes coisas que se constrói o amor ao clube.

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quarta-feira, maio 23, 2007 @ 02:05 GMT ::: link ::: topo




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A principal fonte de informação e imagens para o presente blog são os 16 volumes da História Oficial do FC Porto, de Alfredo Barbosa, editada pelo Comércio do Porto. São também consultados o Livro de Ouro do FC Porto, edição do Diário de Notícias, e a autobiografia de Jorge Nuno Pinto da Costa, Largos Dias Têm 100 Anos, bem como o site oficial do FC Porto e edições passadas de jornais, de entre os quais se destacam A Bola, Jornal de Notícias, O Jogo, O Norte Desportivo e Record. Quaisquer outras fontes serão identificadas nos respectivos posts.






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